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quinta-feira, 18 de agosto de 2011

Porque o brasileiro não reclama?


ocê já ouviu falar em Ignorância Pluralística? Segundo um estudo realizado pelo Fábio Iglesias,  doutor em psicologia e pesquisador da Universidade de Brasília (UnB) a sociedade brasileira sofre desse mal que nos torna “anestesiados” mediante tantos problemas e perdas de direto que vemos no dia-a-dia e não reagimos ou reclamamos.  Isso acontece quando você ouve no rádio, tv ou lê na internet sobre aumento exagerado do salário dos políticos, escândalos de corrupção.  Não precisamos ir tão longe. Idosos, gestantes e deficientes físicos quantas vezes tem preferência garantida por lei e opta por não se manifestar?   Sua internet é mais lenta do que o contratado,  você paga INSS mas tem que ter um plano de saúde. São várias as situações em que temos o direito furtado e não fazemos nada.
Segundo Fábio, “Esse comportamento ocorre quando um cidadão age de acordo

com aquilo que os outros pensam, e não por aquilo que ele acha correto fazer. Essas pessoas pensam assim: se o outro não faz, por que eu vou fazer?” O problema é que ninguém faz nada e consequentemente nada é feito e o desejo coletivo é sufucado.  O brasileiro, de acordo com Iglesias, tem necessidade de pertencer a um grupo. “Ele não fala sobre si mesmo sem falar do grupo a que pertence.”
O psicólogo realizou um estudo em filas de espera em bancos, cinemas e restaurantes.  Observou reações das pessoas enquanto alguém furava a fila entrando como quem não queria nada, falando ao celular ou cumprimentando alguém nas filas e constatou que a maioria fingia que não via, olhar para o teto e fugir do olhar dos outros. O comportamento padrão das pessoas é cordial e pacífico.
Um outro exemplo de ignorância pluralística comum é visto nas salas de aula quando um professor pergunta se todos entenderam. É raro alguém levantar a mão dizendo que está com dúvidas, mesmo que isso lhe sofra prejuízos. Ninguém quer se destacar ocorrendo o que se chama “difusão de responsabilidade”, o que por sua vez, leva a inércia.
 O antropólogo Roberto DaMatta  complementa, diz que não se pode dissociar o comportamento omisso dos brasileiros da prática do “jeitinho”. Para ele, o fato de o povo não lutar por seus direitos, em maior ou menor grau, também pode ser explicado pelas pequenas infrações que a maioria comete no dia-a-dia. “Molhar a mão” do guarda para fugir da multa, estacionar nas vagas para deficientes ou driblar o engarrafamento ao usar o acostamento das estradas são práticas comuns e fazem o brasileiro achar que não tem moral para reclamar do político corrupto. “Existe um elo entre todos esses comportamentos. Uma sociedade de rabo preso não pode ser uma sociedade de protesto”.
A historiadora e cientista política Isabel Lustosa, autora da biografia Dom Pedro I, um Herói sem Nenhum Caráter (ed. Companhia das Letras), acredita que os brasileiros reclamam, sim, mas têm dificuldades de levar adiante esses protestos sob a forma de organizações civis. “Nas filas ou mesas de bar, as pessoas estão falando mal dos políticos. As seções de leitores de jornais e revistas estão repletas de cartas de protesto. Mas existe uma espécie de fadiga em relação aos resultados das reclamações, especialmente no que diz respeito à política.” Segundo Isabel, quem mais sofre com a falta de condições para reclamar é a população de baixa renda. Diante da deterioração dos serviços de educação e saúde, o povo fica sem voz. “Esses serviços estão pulverizados. Seus usuários não moram em suas cercanias. A possibilidade de mobilização também se pulveriza”, diz.
Agora você já sabe por que a maioria de nós, brasileiros, deixamos “passar batidos” os momentos que nos sentimos lesados ou com direito perdido. Cabe a cada um de nós, fazer diferente e mudar essa história (se Deus quiser, para sempre!).
Filipe Rodrigues

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